No contexto de Orientação
Profissional (OP) brasileiro, há uma variedade de modelos teóricos e
modalidades de intervenção incluindo abordagens do enfoque
socio-histórico, psico-pedagógico e comportamental visando tanto “o
desenvolvimento pessoal” quanto “estratégias de pesquisa de emprego” (Sarriera,
2007, p. 100) de um público variado que busca este tipo de serviço. Segundo
Sparta, Bardagi e Teixeira (2006), desde sua origem[1],
esta área tem-se mostrado em constante evolução, passando de uma orientação
mais voltada para o resultado, apoiada em testes psicométricos cujos resultados
eram utilizados como finais e prescritivos da escolha profissional para outra
abordagem que valoriza os “processos de aprendizagem envolvidos na escolha” (p.
23) e tenta acompanhar as “mudanças de paradigmas” e a “mudança radical do
mundo do trabalho” (idem) onde ocorre “um alargamento da rede ocupacional, uma
flexibilização entre as fronteiras profissionais e uma instabilidade ao
desenvolvimento de carreira individual” (idem, p. 23).
O recorte de trabalho que proponho insere-se neste modelo mais moderno, acima de tudo, “o indivíduo
permanece como o único responsável pela escolha profissional, cabendo ao
orientador o papel de facilitador”
(Sparta, Bardagi e Teixeira, 2006, p. 25). Este papel do orientador de carreira
encaixa-se na proposta de Rodolfo Bohoslavsky (1975/2001) onde
"A tarefa de um psicólogo clínico que se dedica à Orientação Vocacional é LER os
problemas de uma perspectiva clínica evidente, neste caso, o entroncamento
entre a vida de um sujeito que enfrenta o momento de escolher com a problemática
específica de escolher" (p.29).
Esta estratégia
clínica significa: "saber ver de um modo particular, a partir e através do
fenômeno lógico, do aparente, do que se apresenta diante de nós, para
compreender aquele que estruturalmente o determina" (p.30). "Diagnóstico
do problema vocacional: é algo que eu gosto ou algo que gosto por meu ambiente?
Este dilema é universal em Orientação Vocacional porque no momento em que se
consolida a identidade vocacional coincide aproximadamente com o começo do fim
da adolescência, onde lutam entre si o interesse na afirmação pessoal e o
reconhecimento da inserção social" (p.35).
Nesta perspectiva, não prescindimos do
uso de testes, mas os inserimos em dois outros dispositivos de fundamental
importância para este processo: as entrevistas psicológicas e o dispositivo
grupal de pares.
Dos
vários testes vendidos e utilizados no Brasil hoje, o que mais se adequa a este
modelo é o BBT-Br – O Teste de Fotos de Profissões – Berufsbilder Test – que é
um teste projetivo muito utilizado e que possui parecer favorável tanto em sua
versão feminina quanto masculina pelo Conselho Federal de Psicologia (Sparta,
Bardagi e Teixeira, 2006) com evidências empíricas de bons índices de precisão
e validade (Okino e Pasian, 2010). Este teste baseia-se no pressuposto de que
“ao escolher uma profissão, as pessoas procuram uma atmosfera na qual possam
colaborar com indivíduos que compartilham de necessidades semelhantes e onde possam
atendê-las por meio do fazer” (Welter, 2007, p. 46). O indivíduo escolhe entre
96 fotos que representam diferentes profissionais em situação de trabalho as
fotos que se encaixam de acordo com suas preferências, rejeições e áreas
neutras (Okino e Paisan, 2010). Supõe-se que “a afinidade com determinadas
fotos implica na afinidade com aspectos fundamentais de uma determinada
atividade profissional nela retratada, explicitando, assim, a estrutura básica
das necessidades do orientando em busca de satisfação” (Welter, 2007, p.46). Assim
o teste auxilia na avaliação do problema de escolha do joven.
O
trabalho de orientação profissional com jovens atua principalmente com grupos
(Mandelli, Soares e Lisboa, 2011; Sarriera, 2007; e Souza, Menandro, Bertollo e
Rolke, 2009) a partir de um olhar crítico articulando o indivíduo que escolhe
“com seu trabalho e suas implicações na construções de si e da sociedade”
(Mandelli, Soares e Lisboa, 2011, p. 53)
colocando o jovem, como já mencionado, no papel de “agente de
transformação...fundamentando na categoria de projeto de vida” (idem, p. 54).
Assim, a oportunidade de discussão entre pares coloca-se como fundamental para
que este jovem caminhe para uma escolha consciente e responsável do seu futuro
possível no mundo do trabalho.
Bibliografia:
Bohoslavsky, R. (1975/2001) Primeira aula do curso sobre
Orientação Vocacional – Estratégia Clínica, ministrada por Rodolfo Bohoslavsky,
em 05 de Fevereiro de 1975. LABOR,
N.0.
Mandelli, M. T., Soares, D. H. P. & Lisboa, M. D.
(2011). Juventude e projeto de vida: novas perspectivas em orientação
profissional. Arquivos Brasileiros de
Psicologia. 63: 1-104. Pp. 49-57.
Okino, E. T. K. (2010) Evidências de precisão e validade do
Teste de Fotos de Profissões (BBT-Br). Revista
Brasileira de Orientação Profissional. 11 (1), pp 23-35.
Sarriera, J. C. (2007) Orientação Profissional no Brasil:
abordagens e intervenções em contextos diversificados. Revista Brasileira de Orientação Profissional, 8 (1), pp.99-101.
Souza, L. G. S., Menandro, M.C. S., Bertollo, M. &
Rolke, R. K (2009) Oficina de orientação profissional em uma escola pública:
uma abordagem psicossocial. Psicologia
Ciência e Profissão. 29 (2), pp. 416-427.
Sparta, M., Bardagi, M. P. & Teixeira, M. A. P. (2006) Modelos
e instrumentos de avaliação em Orientação Profissional: perspectiva histórica e
situação no Brasil. Revista Brasileira de
Orientação Profissional, 7 (2), pp.19-32.
Welter, G. M.R. (2007) O BBT – Teste de Fotos de Profissões
em adultos e adolescentes. Revista
Brasileira de Orientação Profissional, 8 (1), pp.45-58.
[1] Em
1907, o marco internacional é a criação do primeiro centro de orientação
profissional dos Estados Unidos, o Vocational
Bureau of Boston e no Brasil tem seu surgimento atribuído à década de 1920
com o intuito de “orientar alunos de escolas técnicas” (p. 21, Sparta, Bardagi
e Teixeira, 2006).
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