domingo, 25 de janeiro de 2015

Uma proposta de Orientação Profissional

No contexto de Orientação Profissional (OP) brasileiro, há uma variedade de modelos teóricos e modalidades de intervenção incluindo abordagens do enfoque socio-histórico, psico-pedagógico e comportamental visando tanto “o desenvolvimento pessoal” quanto “estratégias de pesquisa de emprego” (Sarriera, 2007, p. 100) de um público variado que busca este tipo de serviço. Segundo Sparta, Bardagi e Teixeira (2006), desde sua origem[1], esta área tem-se mostrado em constante evolução, passando de uma orientação mais voltada para o resultado, apoiada em testes psicométricos cujos resultados eram utilizados como finais e prescritivos da escolha profissional para outra abordagem que valoriza os “processos de aprendizagem envolvidos na escolha” (p. 23) e tenta acompanhar as “mudanças de paradigmas” e a “mudança radical do mundo do trabalho” (idem) onde ocorre “um alargamento da rede ocupacional, uma flexibilização entre as fronteiras profissionais e uma instabilidade ao desenvolvimento de carreira individual” (idem, p. 23).

O recorte de trabalho que proponho insere-se neste modelo mais moderno, acima de tudo, “o indivíduo permanece como o único responsável pela escolha profissional, cabendo ao orientador o papel de facilitador” (Sparta, Bardagi e Teixeira, 2006, p. 25). Este papel do orientador de carreira encaixa-se na proposta de Rodolfo Bohoslavsky (1975/2001) onde 

"A tarefa de um psicólogo clínico que se dedica à Orientação Vocacional é LER os problemas de uma perspectiva clínica evidente, neste caso, o entroncamento entre a vida de um sujeito que enfrenta o momento de escolher com a problemática específica de escolher"  (p.29). 
     
        A função deste profissional é “ter um conjunto de atitudes, uma disponibilidade particular para entender os problemas de um sujeito humano e entender que tanto o problema como a solução requer um tipo particular de leitura”(p.29-30). 

        Esta estratégia clínica significa: "saber ver de um modo particular, a partir e através do fenômeno lógico, do aparente, do que se apresenta diante de nós, para compreender aquele que estruturalmente o determina" (p.30). "Diagnóstico do problema vocacional: é algo que eu gosto ou algo que gosto por meu ambiente? Este dilema é universal em Orientação Vocacional porque no momento em que se consolida a identidade vocacional coincide aproximadamente com o começo do fim da adolescência, onde lutam entre si o interesse na afirmação pessoal e o reconhecimento da inserção social" (p.35). 

       Nesta perspectiva, não prescindimos do uso de testes, mas os inserimos em dois outros dispositivos de fundamental importância para este processo: as entrevistas psicológicas e o dispositivo grupal de pares.

            Dos vários testes vendidos e utilizados no Brasil hoje, o que mais se adequa a este modelo é o BBT-Br – O Teste de Fotos de Profissões – Berufsbilder Test – que é um teste projetivo muito utilizado e que possui parecer favorável tanto em sua versão feminina quanto masculina pelo Conselho Federal de Psicologia (Sparta, Bardagi e Teixeira, 2006) com evidências empíricas de bons índices de precisão e validade (Okino e Pasian, 2010). Este teste baseia-se no pressuposto de que “ao escolher uma profissão, as pessoas procuram uma atmosfera na qual possam colaborar com indivíduos que compartilham de necessidades semelhantes e onde possam atendê-las por meio do fazer” (Welter, 2007, p. 46). O indivíduo escolhe entre 96 fotos que representam diferentes profissionais em situação de trabalho as fotos que se encaixam de acordo com suas preferências, rejeições e áreas neutras (Okino e Paisan, 2010). Supõe-se que “a afinidade com determinadas fotos implica na afinidade com aspectos fundamentais de uma determinada atividade profissional nela retratada, explicitando, assim, a estrutura básica das necessidades do orientando em busca de satisfação” (Welter, 2007, p.46). Assim o teste auxilia na avaliação do problema de escolha do joven.

            O trabalho de orientação profissional com jovens atua principalmente com grupos (Mandelli, Soares e Lisboa, 2011; Sarriera, 2007; e Souza, Menandro, Bertollo e Rolke, 2009) a partir de um olhar crítico articulando o indivíduo que escolhe “com seu trabalho e suas implicações na construções de si e da sociedade” (Mandelli, Soares e Lisboa, 2011, p. 53)  colocando o jovem, como já mencionado, no papel de “agente de transformação...fundamentando na categoria de projeto de vida” (idem, p. 54). Assim, a oportunidade de discussão entre pares coloca-se como fundamental para que este jovem caminhe para uma escolha consciente e responsável do seu futuro possível no mundo do trabalho.

Bibliografia:

Bohoslavsky, R. (1975/2001) Primeira aula do curso sobre Orientação Vocacional – Estratégia Clínica, ministrada por Rodolfo Bohoslavsky, em 05 de Fevereiro de 1975. LABOR, N.0.

Mandelli, M. T., Soares, D. H. P. & Lisboa, M. D. (2011). Juventude e projeto de vida: novas perspectivas em orientação profissional. Arquivos Brasileiros de Psicologia. 63: 1-104. Pp. 49-57.

Okino, E. T. K. (2010) Evidências de precisão e validade do Teste de Fotos de Profissões (BBT-Br). Revista Brasileira de Orientação Profissional. 11 (1), pp 23-35.

Sarriera, J. C. (2007) Orientação Profissional no Brasil: abordagens e intervenções em contextos diversificados. Revista Brasileira de Orientação Profissional, 8 (1), pp.99-101.

Souza, L. G. S., Menandro, M.C. S., Bertollo, M. & Rolke, R. K (2009) Oficina de orientação profissional em uma escola pública: uma abordagem psicossocial. Psicologia Ciência e Profissão. 29 (2), pp. 416-427.

Sparta, M., Bardagi, M. P. & Teixeira, M. A. P. (2006) Modelos e instrumentos de avaliação em Orientação Profissional: perspectiva histórica e situação no Brasil. Revista Brasileira de Orientação Profissional, 7 (2), pp.19-32.

Welter, G. M.R. (2007) O BBT – Teste de Fotos de Profissões em adultos e adolescentes. Revista Brasileira de Orientação Profissional, 8 (1), pp.45-58.




[1] Em 1907, o marco internacional é a criação do primeiro centro de orientação profissional dos Estados Unidos, o Vocational Bureau of Boston e no Brasil tem seu surgimento atribuído à década de 1920 com o intuito de “orientar alunos de escolas técnicas” (p. 21, Sparta, Bardagi e Teixeira, 2006).

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