sábado, 16 de maio de 2020

O "lado bom" da quarentena

NÃO HÁ LADO BOM NA QUARENTENA ou no isolamento físico e por vezes social que estamos vivenciando.

A gente se ajeita, às vezes recria um espaço de trabalho, de estudo; sublima fazendo algo novo. Mas isso é só para segurar na ponta de algum fio de normalidade, de sentido no meio do caos.

NÃO HÁ LADO BOM NA QUARENTENA.

Quarentena é algo que se faz quando há risco à saúde. No nosso caso, hoje, vivemos um momento de tensão, medo e confusão.  O impacto deste momento na vida de indivíduos e famílias varia de acordo com inúmeros fatores, mas não há dúvidas de que todos somos afetados em algum nível. Quarentena está associada à doença e risco de morte. Não há lado bom.

O que podemos fazer então? Resignificar este momento, mas isto não significa esquecer e tentar apagar o ocorrido e, falar em "lado bom", é ignorar a dor deste momento. Prefiro pensar em processo de luto, retomando o meu texto anterior, assim, fazendo uma alusão também ao texto do Freud (1917) Luto e Melancolia. Aqui, um luto coletivo da perda de um modo de vida e um luto da perda de um suposto sentimento de segurança e talvez liberdade. Aqui, sem desconsiderar as questões individuais,  considerando este fenômeno no seu âmbito coletivo.

O que fazer? Que conversas ter?

Primeiro ponto: reconhecer a perda. É fundamental que hajam registros coletivos, memoriais que marquem simbolicamente represente este momento que passamos. É preciso, realizar a perda. Em escolas e empresa, é possível pensar num mosaico ou mural que registre sentimentos e experiências deste momento para que sua história não seja apagada. É preciso nomear para curar.

Segundo ponto: Rever os procedimentos, o fazer e as relações a partir disto que foi perdido. É preciso mostrar o reconhecimento disto que já foi. Na vivência da pandemia são as revisões das práticas e rotinas diárias.

Terceiro ponto: Transformar. Jamais, nomear isso de "lado bom", porém, num movimento de elaboração, o que tomo disso para seguir em frente? Muitas pessoas puderam repensar seu modo de trabalhar, se relacionar, aprender, amar. Como comunidade é urgente permitir que este processo seja realizado. Que alguma lição seja aprendida, por mais utópico que isto se pareça.

Essas são algumas considerações que tem auxiliado a mim e aos meus colegas a pensar este momento de transição.

Os estudos e trocas continuam e que deem mais fruto.





quinta-feira, 14 de maio de 2020

Perdas, luto e trauma coletivo em tempos de pandemia

Perdendo ou não entes queridos, vivemos um momento de luto e potencial trauma coletivo. Se as "perdas" (ainda que simbólicas) na vida são inegáveis e inevitáveis, agora mais do que nunca elas são muitas e incontestáveis; e são compartilhadas.

O impacto deste momento na vida de indivíduos e famílias varia de acordo com inúmeros fatores, mas não há dúvidas de que todos somos afetados em algum nível.

Tenho pensado muito sobre perdas, luto e trauma dentro do contexto do meu trabalho e de que forma podemos, como instituições onde os atores tem uma relação profissional,  nos organizar para dar conta e suporte para nossa comunidade. Há diversos profissionais e autores que podem nos falar deste assunto. Sábado dia 16 serei aluna em um curso no CEP a este respeito com o professor Christian Dunker. Compartilho aqui algumas reflexões iniciais que fiz neste percurso de pensar o tópico em tempos de pandemia. Ao final, as referências que consultei especificamente neste assunto mais recentemente e que tem me ajudado, junto de outros colegas, a pensar como estarmos minimamente prontos para acolher neste momento.

Primeiramente, tenho pensado em quais são os aspectos fundamentais do processo de luto, ou seja, o que é fundamental para elaborarmos o luto? Entre leituras e pensar formas de compartilhar isso com colegas, pensei na imagem abaixo:



 A ideia da imagem não é reduzir o fenômeno do luto, mas facilitar pessoas comuns que não são necessariamente terapeutas, mas lidam com um grande número de pessoas (professores, orientadores e administradores em escolas, mas também gerentes e coordenadores em empresas de uma modo geral) a terem em mente pontos chaves a considerar frente a este momento.

No que diz respeito à conexão, é no sentido que pensar em quem está disponível para ouvir o outro num momento de perda individual. No contexto dos traumas coletivos, a ideia de conexão perpassa pela nação de como olharmos e nos vincularmos uns aos outros neste momento agora que não é mais como era antes.

A questão do espaço tem uma concretude dolorosa: em tempos de pandemia, não estamos podendo nem enterrar nossos mortos direito. Assim, que espaços , ao menos simbólicos, podemos criar para minimizar a falta dos espaços e rituais tradicionais de nossa cultura que hoje ficam em suspenso? Como grupo, que espaço simbólico podemos criar para registrar o que ficou, o que se perdeu para nós?

Como contar o tempo para superar isso que nem acabou? Se há um tempo oficial, burocrático, previsto em lei para o luto de um funcionário; não podemos dizer que este "tempo " legal dá conta do tempo subjectivo de processar uma perda e certamente não é um equivalente para um lutos e traumas simbólicos. As considerações sobre o tempo pedem que se tenha em mente que o fazer do trabalho ou do estudo (neste contexto de onde falo) não pode ser mais como um era antes. Certamente não por um bom tempo e é preciso achar alternativas para que os indivíduos continuem existindo e sendo durante este tempo .

É tempo de pensar  que é realmente necessário.

Esses são pontos essenciais que creio que devemos estar atentos ao acolher e nos acolhermos enquanto indivíduos e grupos, do ponto de vista da educação, mas de outras esferas do trabalho.

Referências:









sexta-feira, 24 de janeiro de 2020

Meninos e questões de imagem corporal

Origem da foto, esse excelente vídeo sobre o assunto.

Por muito tempo, associou-se questões com a imagem corporal ao sofrimento psíquico feminino apenas; contudo, mesmo que ainda em atraso, começam a aparecer mais estudos que comprovam o que educadores e profissionais da area da saúde mental tem verificado há tempos: meninos também sofrem com sua imagem corporal e pelos mesmos motivos que levam às mulheres a esse sofrimento: ideias  socialmente construídos e engessadas sobre feminilidade e masculinidade.

Este artigo, do site Common Sense Media traz algumas reflexões sobre esta questão. O site está em inglês. Abaixo, compartilho alguns apontamentos baseados na minha prática em educação e saúde mental sobre formas de ajudar nossos filhos (meninos e meninas) a superarem e lidarem com essas questões:

- Quando falar de comida com seus filhos, fale em termos de saúde e nunca associando um tipo de alimentação com ficar com um corpo de um jeito ou de outro. Nunca diga "isso engorda" ou "se comer isso vai ficar gordo". Além deste tipo de associação ser relativa, este tipo de comentário associa culpa ao ato de comer, algo que é vital, cultural e deveria ser prazeroso.

- Se houver preocupação com o peso de seu filho, consulte um especialista para buscar o equilíbrio e o ideal para a criança.  Nunca trate isso com teor estético, como sinal de beleza ou falta dela nunca diga que seu filho está gordo ou magro demais. Associe a necessidade de emagrecer ou engordar com saúde, baseando esta busca em acompanhamento de profissional especializado.

ALIÁS, em tempo, o fato do peso de uma pessoa poder estar associado com sua saúde, NÃO TEM RELAÇÃO com sua beleza. Temos que parar de usar "nossa, você emagreceu" como elogio.

- Fique atento ao que seu filho ou filha vê por aí, no YouTube, no Instagram, Netflix, etc. Via de regra, guardado o devido julgamento frente a informação claramente inapropriada para a idade, eu sou contra proibições, prefiro trabalhar na linha da conversa. Acesso o conteúdo junto de seu filho de vez em quando, problematize aquilo que está sendo apresentado, não julgue ou puna seu filho, não ridicularize o gosto dele, mas pense e reflita junto, coisas como "nossa, filha, você percebeu que todas as 'sereias' dessa série são loiras (ou magras)"? Nossa, será que esse cara dessa foto é assim mesmo na vida real?

- Ao invés de tentar impedir sua filha ou filho de acessar algum conteúdo (vide observação acima, exceto em caso de óbvia inadequação), ofereça a inclusão de fontes mais saudáveis e interessantes de  de conteúdo na internet.

Abaixo, algumas páginas no instagram que podem interessar e ajudar a quebrar estereótipos:

https://www.instagram.com/obarrigapositiva/
https://www.instagram.com/mqueridocorpo/
https://www.instagram.com/nutricaosempressao/
https://www.instagram.com/mbottan/
https://www.instagram.com/mairacomacento/

Novos serviços

Psicólogo não faz uma coisa só! Este post é para divulgar novos serviços que estou prestando. Além do meu trabalho na escola e da minha cons...