terça-feira, 21 de agosto de 2018

Participação dos pais na criação dos filhos

Durante muito tempo, os estudos sobre o desenvolvimento humano focaram na interação da díade mãe-criança. “Até as décadas de 1960 e 1970 os estudos sobre o desenvolvimento praticamente excluíam o pai, responsabilizando a mãe pelo sucesso ou fracasso do desenvolvimento dos filhos” (ref1: p.580). Com a força dos movimentos por igualdade de gênero e a maior inserção dos dois genitores no mercado de trabalho, passou-se a ter a busca por uma “divisão equitativa das atividades domésticas e de cuidados entre o casal, principalmente quando os pais são mais jovens” (ref1: p.581).  

Um estudo de 1978 (ref1: p. 581) havia constatado naquela época que “metade dos homens participantes contribuía muito pouco para o cuidado diário de suas crianças e que a qualidade da interação era pobre”. Como estará hoje a participação de pais jovens, que vivem juntos das mães de seus filhos, nos cuidados cotidianos deles? Esta foi a inspiração para esta breve pesquisa.  

Responderam a uma pesquisa voluntária e anônima através da plataforma surveymonkey.com dez pais. Em metade (5) dos casos, ambos o pai e a mãe trabalham fora. Em um dos casos só a mãe. Não foi feita coleta de dados a respeito do status socioeconômico nem étnico destas famílias, mas como o convite para a pesquisa foi feito através de rede social pessoal, podemos afirmar que neste caso a maioria dos pais são homens brancos da classe média ou acima. 

Resultado de imagem para pais que cuidam de filhos
(fonte: http://g1.globo.com/sp/santos-regiao/noticia/2012/08/pais-abrem-mao-da-rotina-de-trabalho-para-cuidar-dos-filhos-no-lugar-da-mae.html)

Quase todos os pais (70%) participa dos cuidados referentes a atividades de higiene dos filhos (troca de fraldas ou monitora ida ao banheiro quando necessário) e de alimentação (preparar a comidadar a comida, limpar a mesa e louça depois da comida) TODOS OS DIAS. Vinte por cento faz as duas tarefas ao menos quase todos os dias.  


Com relação ao vestuário (trocar, verificar se as roupas ainda servem ou se ainda estão em ordem para uso, etc.), em 60 % os pais atuam sempre que precisa, mas em 40% dos casos esta ainda é uma função materna quase que exclusivamente. 


No que diz respeito à saúde (levar ao médico seja para consultas de rotina ou emergência, dar os remédios, ir buscar quando é manipulado, etc.), 60% divide com a companheira, enquanto que para 30% dos pais são eles os responsáveis por esta tarefa. No caso de ter de faltar ao trabalho para cuidar do filho/a, também em 60% dos casos, a divisão é equitativa entre pai e mãe; apenas em um dos casos é só a mãe e em só o pai que falta ao trabalho para ficar com a criança doente.  

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(fonte: http://g1.globo.com/sp/santos-regiao/noticia/2012/08/pais-abrem-mao-da-rotina-de-trabalho-para-cuidar-dos-filhos-no-lugar-da-mae.html) 


Quase todos os pais (90%contam historinhas para os filhos todos os dias (50%) ou quase todos os dias (40%).  


Sobre os cuidados com a mochila do filho, seja da escola ou no caso de um passeio, em 50% a mãe é a principal responsável pela tarefa, e em 40% a divisão é igualitáriaPara levar a trazer dos lugares (passeios, escola, atividades extracurriculares, etc.), em 40% dos casos é o pai o maior responsável pela tarefa, em 30% mais a mãe e em 30% a divisão é igual entre os dois.  

Olhando para estes números notamos que eles são mais otimistas que os números citados de 40 anos atrás. Neste grupo socioeconômico, que tem pais de idade aproximadamente entre 30 e 50 anos (ou seja, são os “filhos” dos pais pesquisados lá em 1978), há uma tendência em tornar a divisão de tarefas de cuidados com os filhos mais igualitárias entre pai e mãe. O que é ótimo em muitos sentidos.  

Parke (1996 Ref. 1 p. 581) ressalta que o cuidado direto do pai com a criança é uma importante influência indireta na relação conjugal, já que o pai é também uma fonte de suporte emocional e concreto para a mãe. 
É importante salientar, porém, que o pai não pode ser visto apenas como um coadjuvante no cuidado e apoio à mãe, pois deve ser estudado também como um partícipe importante do desenvolvimento, porque influencia e é influenciado em sua interação direta com a criança.” O que parece ser a tendências dos pais que responderam a esta pesquisa.  

(fonte: https://www.ceert.org.br/noticias/crianca-adolescente/8047/pais-cuidam-dos-filhos-dentro-das-empresas) 

Como estes novos pais estão tentando mudar esta dinâmica familiar? 

Existem alguns fatores, apontados por Engle e Breaux (1998 Ref. 1 p. 581), que podem estar associados com a qualidade do investimento do pai em relação aos filhos, como, por exemplo, fazer parte de uma cultura que considere maior igualdade de gêneros; residir com a companheira, mãe da criança; ter uma relação familiar harmoniosa, fazer parte de um sistema econômico com recursos suficientes para sustentar o filho; além de trabalhar de forma cooperativa com sua esposa/companheira para prover ao sustento da família.” 

O norte principal que orienta a divisão de tarefas para estes dez pais é a conversa com a companheira e a percepção do outro. Ou seja, estar atento a quem está mais no pique naquele dia para dividir a tarefa ou entrar em acordos de divisão que contemplem o gosto do parceiro; assim quem gosta de cozinhar cozinha sempre, quem gosta de lavar a louça lava. Uma das falas finais dos respondentes resume bem a ideia: 

“Acreditamos que o segredo é a parceria, compreensão e atenção na rotina/humor do outro, pois ninguém é obrigado a estar super disposto todos os dias, então dividir as tarefas não é nada mais do que cuidar não só das crianças, mas um dos outros, com a mesma atenção para as outras coisas da vida.  

Este movimento, esta mudança de posicionamento com relação aos papéis que homem e mulher exercem enquanto pais e mães só é possível como consequência da mudança do olhar sobre estes papéis onde mulheres estão podendo ocupar lugares antes designados aos homens e homens também estão podendo ocupar lugares antes mais associados a mulheres. Esta flexibilização permite que indivíduos (a despeito de serem pais, mães, homens ou mulheres) possam se realizar mais como sujeitos e, desta forma, o ambiente familiar tende a tornar-se mais saudável para todos os membros da família. 

Contudo é crucial não perder de vista que este breve levantamento foi feito com um modelo de família em um grupo socioeconômico, assim, fica a oportunidade de reflexão sobre como será em outros modelos familiares e grupos de renda. O estudo citado como referência explora a última questão e vale a leitura. 


Referência: 

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