sexta-feira, 22 de abril de 2016

Atividade outdoor, aprendizado & inclusão


Há pouco mais de um mês, Maria Alice Fontes,  Ph.D., e eu escrevemos um artigo para o site da Clínica Plenamente intitulado: Explicando os efeitos do exercício físico no cérebro e na saúde mental, que pode ser acessado aqui. Este é um assunto que vem ganhando espaço em minha vida por unir meu trabalho com alunos e suas dificuldades de aprendizagem e meu amor pelo esporte, especialmente o karatê e as atividades outdoors. 


Assim, minha alegria foi imensa ao encontrar, na mesma revista Go Outside que inspirou o primeiro artigo (edição de Janeiro/Fevereiro de 2016), mas desta vez na edição de Abril (2016, p. 63), o categórico texto "A natureza precisa de crianças com déficit de atenção"!

Nesta breve reportagem, os repórteres Bruno Romano e Florence Williams contam a experiência do programa SOAR, perto de Seneca Rocks no leste dos EUA. Lá, ocorre um acampamento para jovens de 12 a 18 anos diagnosticados com TDAH. A proposta veio como uma alternativa complementar ao tratamento de indivíduos com dificuldades de atenção porque os organizadores perceberam que "atividades como acampar, escalar e remar, funcionavam como mágica para essas crianças". 


Há muita controvérsia em torno do diagnóstico de TDHA. A reportagem não aborda esta questão diretamente, mas mostra opinião de dois psiquiatras a respeito da intervenção "natural" para TDHA. Dale Archer - autor de The ADHD Advantage - é um entusiasta dos esportes radicais e aventuras como forma de canalizar o que considera características mal "utilizadas" das pessoas que tem déficit de atenção. Ele acredita que por se dar bem em situações extremas - tanto ele quanto o filho são velejadores e tem o diagnóstico do distúrbio - "talvez os sintomas do TDAH não sejam mais sintomas de fato quando estimulados corretamente".

Por outro lado, a psiquiatra brasileira Alice Koch, especialista no assunto, alerta para o fato de que "aqueles que apresentam sintomas de hiperatividade e impulsividade são os mais adeptos às práticas radicais e costumam obter muito sucesso nelas, pois conseguem ter satisfação e prazer fazendo algo que, para muitos, dá medo e insegurança". Mas ela alerta que o monitoramento e orientação são imprescindíveis visto que estes indivíduos, muitas vezes agindo por impulso, podem colar suas vidas e a dos outros em risco.

Independente da necessária e construtiva discussão que se pode ter em torno dos sintomas e diagnósticos de TDHA, o que para mim está em jogo aqui, o foco mesmo da questão, é que o aprendente não o faz da mesma forma, somos uma multitude de estilos de aprendizagem. É verdade que aqueles que tem menos dificuldades se adaptam a quase qualquer sistema, mas aqueles que tem suas particularidades para aprender são os que mais se beneficiariam de uma multitude de estilos no ensinar e no avaliar. Fico pensando o quanto que isso também não poderia trazer alívio aos professores dentro de suas multitudes de estilos e particularidades.

Por fim, retomo aqui um artigo compartilhado por minha amiga Giovana Zanella Cardouzo, escotista, mãe de dois! Uma pré adolescente de 12 anos e um garotinho adorável de 5 anos. O artigo cita um estudo que demostra que "crianças que acampam vão melhor na escola, são mais felizes e saudáveis".

Será que não estamos valorizando demais um modelo único de ensino, aprendizagem e avaliação? Não seria hora de arriscar pensar fora da caixinha? Alguns diriam que é uma utopia achar que assim dá para "ensinar todo mundo". Talvez, ou talvez a utopia seja achar que assim como fazemos hoje, é que dá! Fica o convite para a reflexão e "expedição"!



sexta-feira, 15 de abril de 2016

Aprendizado significativo/ Meaningful Learning


Há aproximadamente um mês, tivemos aqui na escola uma conferência sobre educação. Entre os vários excelentes palestrantes que recebemos, Ron Berger esteve aqui para nos falar de sua proposta em favor de Beautiful Work, de belos trabalhos, em educação. Sua proposta em educação foca em projetos inter-curriculares que tem a arte como espinha dorsal. Através do feedback dos próprios colegas, crianças pequenas, inclusive, são capazes de transformar suas produções, pouco à pouco, e realizar obras incríveis. Em suas próprias palavras, Ron deseja "inspirar qualidade e caráter nos alunos, especificamente através de um aprendizado baseado em projetos, pesquisa científica e histórica original, um aprendizado que presta serviços para a sua comunidade, e imersão em arte". 


About a month ago, our school hosted an educational conference. Among the various excellent speakers, we had Ron Berger talking about his proposition of Beautiful Work in education. His proposition focuses on inter-curricular projects that have art as its north. Through peer feedback, even little children are capable of transforming their productions, little by little, and creating amazing master pieces. In his own words, he wishes to "inspire quality and character in students, specifically through project-based learning, original scientific and historical reasearch, service learning, and the infusion of art".  

O objetivo principal não é, claro, formar artistas, mas proporcionar aos alunos um aprendizado profundo e cooperativo, pensamento crítico e sucesso na aprendizagem a partir daquilo que cada um é capaz. Os valores que norteiam este trabalho podem ser encontrados aqui neste link.

The main objective of this is not, of course, to form artists, but to allow students to experience a profound and cooperative learning, to develop critical thinking and to have success in learning within their own possibilities. The principles that guide this practice can be found in this link here

Aqui neste vídeo, podemos ver Ron contando para uma turma mista de uma escola em Maine (EUA) sobre o desenho de Austin e sua borboleta. É possível testemunhar o quanto este processo pode ajudar os alunos a desenvolver suas habilidades verbais tanto para explicar seu ponto de vista como para compreender uma explicação. Às crianças é dada a oportunidade de aprender uns com os outros ao invés de receber conteúdo pronto de adultos. Quando estudamos os teóricos do desenvolvimento humano como Piaget, Kohlberg, Vygotsky, e observamos as evidências, vemos como o aprendizado é facilitado quando é relacionado com o outro, com e dos pares e iguais num processo colaborativo. Na fala da criança também nota-se o surgimento de valores coletivos e individuais: honestidade sem agressividade - os alunos percebem como podem ser críticos sem serem rudes - e perseverança - mais uma vez as próprias crianças notam como Austin não desistiu de seu trabalho, de aprimorá-lo até chegar no seu verdadeiro melhor.

Down below in this video, we can see Ron telling a mixed group from a school in Maine (USA) about Austin's butterfly drawings. It is possible to witness how much this process allows students to develop their verbal abilities both when trying to explain their point of view and also when trying to understand the explanation. The children are given the opportunity here to learn from and with their peers and not only receive ready content from adults. When we study human development theorists such as Piaget, Kohlberg and Vygotsky, as well as when we look at current evidence, we can verify that learning is facilitated by the cooperation among equals (peers). When the children in the video speak, we can note both collective as well as individual values: non aggressive honesty - students realize they can be sincere in their critiques without being offensive - and perseverance - once more, kids notice that Austin did not give up on improving his work, on making it better to show his true best. 


Não é sem querer que Ron tenha uma relação bem próxima com o curso de pós graduação da Escola de Educação de Harvard. É de lá que vem o Project Zero, um grupo que pesquisa abordagens em educação que envolvam os alunos de forma criativa e significativa como as rotinas de pensamento [thinking routine] com o intuito de cultivar as habilidades de raciocínio dos alunos bem como aprofundar o conhecimento dos conteúdos. São propostas de rotinas de pensamento que auxiliam os alunos a tornar seu pensamento visível e portanto, tomar a autoria para si.

It's not an accident, then, that Ron has a close relationship with Harvard Graduate School of Education. It is from the HGSE that Project Zero comes, a research group aimed at developing educational approaches which are creative, meaningful and involving, such as the thinking routines. these propose to nurture student's thinking skills as well as deepen subject learning. These are thinking routines which help students make their thinking visible and thus, take ownership of it. 

Numa propostas mais radical, o cientista educacional Sugata Mitra propõe um sistema educacional disponível na rede para que os alunos aprendam por conta. Isso mesmo, ele acredita - e tem demostrado isso através de experimentos como o "hole in the wall" - que as crianças podem aprender umas com as outras se a elas é dado acesso à conteúdo - pela internet - que desperte sua curiosidade. Mitra aposta na curiosidade compartilhada, onde a curiosidade de um colega desperta a do outro e o aprendizado cresce a partir disto.

In a more radical proposition, the educational scientist Sugata Mitra proposes an educational system in the cloud where the students can learn on their own. That is exactly it. He believes - and has demostrated that through various experiments such as the "hole in the wall" - that children can learn from one another if they are given access to content - via internet - and their curiosity is nurtured. Mitra stands by shared curiosity - one's curiosity elicits the other's and learning grows from this point on. 


O que estas propostas tem em comum é um "descontrole" do professor do processo de aprendizado. Não no sentido negativo que a palavra pode ter, mas justamente o contrário. Estamos falando de um professor seguro do processo de aprendizagem a tal ponto que permite aos alunos a autoria de seu aprendizado com a consciência de que esta é a única forma de consolidar o que é aprendido. Ao professor o que lhe cabe, então? Mediar este processo, apoiar, sustentar subjetivamente este caminho que é traçado pelo próprio aluno.

What these propositions have in common is a loss o control from the teacher in the learning process. Not with a negative connotation, but precisely the opposite. We are talking about a teacher who is confident about the learning process to a point where he/she can allow the learner to have authorship of his/her learning, conscious that is the only way of truly consolidating learning. What is left for the teacher then? To mediate this process, to support, to subjectively stand by this path that must be followed by the student him/herself. 



Novos serviços

Psicólogo não faz uma coisa só! Este post é para divulgar novos serviços que estou prestando. Além do meu trabalho na escola e da minha cons...