quinta-feira, 14 de maio de 2020

Perdas, luto e trauma coletivo em tempos de pandemia

Perdendo ou não entes queridos, vivemos um momento de luto e potencial trauma coletivo. Se as "perdas" (ainda que simbólicas) na vida são inegáveis e inevitáveis, agora mais do que nunca elas são muitas e incontestáveis; e são compartilhadas.

O impacto deste momento na vida de indivíduos e famílias varia de acordo com inúmeros fatores, mas não há dúvidas de que todos somos afetados em algum nível.

Tenho pensado muito sobre perdas, luto e trauma dentro do contexto do meu trabalho e de que forma podemos, como instituições onde os atores tem uma relação profissional,  nos organizar para dar conta e suporte para nossa comunidade. Há diversos profissionais e autores que podem nos falar deste assunto. Sábado dia 16 serei aluna em um curso no CEP a este respeito com o professor Christian Dunker. Compartilho aqui algumas reflexões iniciais que fiz neste percurso de pensar o tópico em tempos de pandemia. Ao final, as referências que consultei especificamente neste assunto mais recentemente e que tem me ajudado, junto de outros colegas, a pensar como estarmos minimamente prontos para acolher neste momento.

Primeiramente, tenho pensado em quais são os aspectos fundamentais do processo de luto, ou seja, o que é fundamental para elaborarmos o luto? Entre leituras e pensar formas de compartilhar isso com colegas, pensei na imagem abaixo:



 A ideia da imagem não é reduzir o fenômeno do luto, mas facilitar pessoas comuns que não são necessariamente terapeutas, mas lidam com um grande número de pessoas (professores, orientadores e administradores em escolas, mas também gerentes e coordenadores em empresas de uma modo geral) a terem em mente pontos chaves a considerar frente a este momento.

No que diz respeito à conexão, é no sentido que pensar em quem está disponível para ouvir o outro num momento de perda individual. No contexto dos traumas coletivos, a ideia de conexão perpassa pela nação de como olharmos e nos vincularmos uns aos outros neste momento agora que não é mais como era antes.

A questão do espaço tem uma concretude dolorosa: em tempos de pandemia, não estamos podendo nem enterrar nossos mortos direito. Assim, que espaços , ao menos simbólicos, podemos criar para minimizar a falta dos espaços e rituais tradicionais de nossa cultura que hoje ficam em suspenso? Como grupo, que espaço simbólico podemos criar para registrar o que ficou, o que se perdeu para nós?

Como contar o tempo para superar isso que nem acabou? Se há um tempo oficial, burocrático, previsto em lei para o luto de um funcionário; não podemos dizer que este "tempo " legal dá conta do tempo subjectivo de processar uma perda e certamente não é um equivalente para um lutos e traumas simbólicos. As considerações sobre o tempo pedem que se tenha em mente que o fazer do trabalho ou do estudo (neste contexto de onde falo) não pode ser mais como um era antes. Certamente não por um bom tempo e é preciso achar alternativas para que os indivíduos continuem existindo e sendo durante este tempo .

É tempo de pensar  que é realmente necessário.

Esses são pontos essenciais que creio que devemos estar atentos ao acolher e nos acolhermos enquanto indivíduos e grupos, do ponto de vista da educação, mas de outras esferas do trabalho.

Referências:









2 comentários:

  1. Sensacional! A conexão deve ser sólida e eficaz, devemos aproveitar o espaço em que estamos, para saber valorizar o tempo e tudo o que nos sobrar.

    ResponderExcluir
  2. Exato! E temos que ser bem criativos em tempos de pandemia tão prolongados.

    ResponderExcluir

Novos serviços

Psicólogo não faz uma coisa só! Este post é para divulgar novos serviços que estou prestando. Além do meu trabalho na escola e da minha cons...